Fiz vinte e seis translações solares, vivi muitas horas, setenta e cinco mil das quais passei a dormir, mas frustre-se quem de mim espera muitas histórias, pois das muitas aventuras e aprendizagens, pouco tenho de interessante para vos contar.
A viagem pareceu lenta, mas o tempo passou rápido e não o consegui aproveitar, talvez por não ter as oportunidades, ou por não proporcionar a que elas aparecessem, questiono o porquê de ser assim, mas as respostas são difíceis.
Fui criado com liberdade, mas não me incutiram responsabilidade e rigor nas minhas tarefas e agora vivo o pesadelo da fraqueza do corpo a arrastar a mente.
Todos os anos travo a batalha do Ano Novo/vida nova, é a batalha moribunda onde a fraqueza vence.
A minha triste vida é o espelho deste meu dia, que começa na esperança de um despertar madrugador para trabalhar em projectos ambiciosos e o rescaldo é um arroz de tomate como nunca o fiz e a esperança de amanhã acordar cedo para trabalhar nos tais projectos.
É triste, eu sei, mas esta tristeza mistura-se com a revolta por aquilo que não faço, ganho a força e a vontade de fazer aquilo que já podia ter feito e não fiz, arranjo o motivo para voltar a não fazer o que já devia ter feito e entristeço-me por ser assim, revoltando-me novamente para iludir a realidade.
Vinte e seis anos a iludir a realidade, chega!
Chega de deitar e acordar tarde, chega de vícios, chega de perder tempo com coisas fúteis, chega de leviandades.
Acredito na imortalidade da alma e no poder da mente Humana, dádiva de Nosso Senhor Todo Poderoso, contra a qual batalharei para controlar o corpo, atingir a paz interior e dominar o poder do maior feito da criação divina.
Serei rigoroso, exigente e crítico, comigo mesmo e com tudo o que me rodeia, serei conselheiro, serei criativo, serei mais que uma singularidade na sociedade, serei o Mestre.